Sempre morei em casa. Quintal grande, árvores...E foi assim, que numa manhã de domingo, encontrei um anuncio da venda de lotes aqui na minha região. Eu já tinha olhado vários, mas nenhum me agradou. O corretor se prontificou a me levar no local e então fui, sem acreditar muito. Chegando, desci do carro, senti o vento daquele lugar e o encanto tomou conta de mim.Naquele momento eu soube que era ali que passaríamos o resto de nossas vidas...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Não tenho vergonha de dizer que estou triste...

"A saudade é um sentimento do coração que vem da sensibilidade e não da razão"
Dom Duarte


Eu não sabia ainda que nome daria aquele pequenino. Todos os meus animais tem nome. Vejo em cada um uma mania, um jeito de ser bem particular, assim como vemos em outras pessoas. Os animais também tem personalidade.
Ele nasceu atrasado, se é que posso dizer assim. A galinha ficou mais tempo no ninho a espera dele, que só nasceu na madrugada seguinte aos 21 dias de incubação. Eu nem sabia que eram cinco pintinhos e só o descobri porque caiu entre as madeiras de um caixote e ficou lá piando forte. Vi os outros e coloquei junto a galinha que permanecia no ninho, mas aquele piado insistente continuou. Foi aí que percebi que existia mais alguém. Alguém especial... Tão pequenino! Bem menor que os outros. Teve com certeza dificuldades para nascer e acho que por conta disso, ficou mais fraquinho. Não sei se era um franguinho ou uma franguinha, mas me enamorei do jeito carente e desprotegido. Mas havia algo estranho. Não era mesmo como os outros, pois não tinha o mesmo ritmo, sentia mais frio, dependia mais da mãe do que os irmãos. Então eu ia constantemente ao galinheiro para vê-lo. Mas parecia sempre dormir enquanto os irmãos descobriam o mundo.


Ontem, minha amiga Juliane me convidou para dar uma volta depois que saísse do trabalho. Fiquei tão contente, pois estava com saudades dela. Foi coisa rápida. Fomos à Lagoa da Pampulha, que é aqui bem perto e vimos muitas capivaras , marrecos e outros tantos bichos. Ela chegou a comentar que , em determinado momento, parecia que estávamos no Pantanal. Eram muitas capivaras e seus filhotes pastando em um final de tarde de brisa fresca. O Heitor, filho dela, tinha um sorriso de dar inveja! Feliz, esticava a mãozinha como que chamando os animais para perto de si, ou queria , na sua inocência, entrar na água atrás dos patos que a Jú assustou de brincadeira para que voassem. Enfim, um delicioso fim de tarde.
Mas não demoramos e creio que em uma hora eu já estava de volta. Quando cheguei, a casa estava cheia de visitas que vieram ver minha mãe. Meu irmão e família e minha prima também com a família. Encontrei a casa em clima de festa e quando entrei, alguém que não me lembro disse as crianças algo parecido com : " - Fiquem quietos, a polícia chegou! " Bom, na realidade, da rua já escutei a gritaria das crianças e vozes muito altas, e então pude me preparar psicologicamente. Um pouco...É que minha casa é uma santa paz e não sou acostumada a tanto barulho.E nem quero! Não entendo porque sou taxada de coisas ruins por conta de coisas que são tão obvias quanto gostar de um pouco de silêncio! Bom , mas deixa pra la...
Mas em meio a tudo isso, a noite já havia caído , me lembrei do pequenino pintinho. Pedi licença e fui a janela do quarto e o escutei piando. Corri ao galinheiro e o que eu mais temia me aconteceu. O encontrei fora do ninho, gelado e quase morto! Ele não seguiu a galinha até o ninho e ficou no cimento frio. Sofrendo.Senti nesse momento uma culpa louca. Desesperada, o enrolei em um paninho e coloquei junto ao meu peito até que meu irmão me ajudou a providenciar uma caixa aquecida com uma lâmpada. Aos poucos percebemos uma melhora enquanto se aquecia. Mas levei - o para meu quarto para ficar de olho durante a madrugada.
Pela manhã, estava bem calado, mas quentinho. Levei-o até a galinha mas não conseguiu ficar de pé. Quando entrei, com ele entre as mãos, olhou-me como que se despedindo e se foi. Eu simplesmente não acreditei que o havia perdido e soube: A culpa era minha! Ele era tão frágil e eu já sabia!
Mais uma vez, aprendo com a dor. Talvez, muitos pensem que era só um minusculo animal, mas com apenas quatro dias de vida e um tamanho insignificante aos olhos do mundo, ele me ensinou muito sobre cuidado e amor que temos que ter com aqueles que estão sob a nossa responsabilidade. Seja gente. Seja bicho.
Escolhi um lugar florido no jardim para que aquele serzinho descansasse em paz e pude refletir o quanto as diferentes perdas vão sempre impactar nossas vidas. Sempre disse, me perdoe os Cristãos e religiosos, que eu gostaria que existisse um céu para os animais. Eles merecem muito!

"...E me acreditem, não nego,
Chorei com pena e saudade
Daquele pintinho cego
Que não via a claridade
Do sol que ilumina o dia,
Que nos dá a vida a todos nós,
E enquanto me conhecia
E era feliz quando ouvia
O timbre da minha voz."

3 comentários:

Minha Casa - meu corpo 16 de setembro de 2011 às 14:23  

Eu acredito que existe um céu para os animais. Onde vou encontrar a Teka, Joselito e Floquinho e quem mais vier... Pesem o que quiser.
Bjs. Nice.

"Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam."
(A Hora da Estrela)

Clarice Lispector

Anônimo 17 de setembro de 2011 às 01:48  

Me doeu, fiquei triste....

Etiene Oliveira 18 de setembro de 2011 às 14:44  

Gostei da Helenice ter citado Clarice Lispector!

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